segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O QUE ESTÁ MATANDO À POLÍCIA BRASILEIRA?

Com este título, o jornal The New York Times publicou sábado, 01 de dezembro, matéria do professor Graham Denyer Willis, doutorando em Estudos e Planejamento Urbano no Massachusetts Institute of Technology, EUA, relaciona as mortes de PMs em São Paulo aos baixos salários:
Leia o artigo traduzido para o português. Se preferir, leia o texto original em inglês logo após este:
O Que Está Matando a Polícia Brasileira?
POR GRAHAM DENYER WILLIS
Published: December 1, 2012
The New York Times.
SÃO PAULO, Brazil


Na noite de sábado, 3 de novembro, Marta Umbelina da Silva, uma policial militar de São Paulo e mãe solteira de três filhos, foi assassinada na frente de sua filha de 11 anos, na porta de sua casa em Brasilândia, uma comunidade desfavorecida na Zona Norte da cidade.
Os registros da polícia mostram que Marta, 44 anos, nunca havia prendido ninguém em seus 15 anos de carreira. Ela era uma entre centenas de oficiais de baixo escalão encarregados principalmente da administração interna.
A maior cidade da América Latina continua descendendo em uma violenta rixa sangrenta entre a polícia e uma facção do crime organizado.
Até agora, 94 policiais foram mortos em São Paulo em 2012 — número duas vezes maior do que no ano passado. Entre julho e setembro, policiais militares em serviço mataram 119 pessoas na região metropolitana e, apenas nos três primeiros dias do mês de novembro, 31 pessoas foram assassinadas na cidade.
Essa estatística esconde uma história mais profunda sobre as cidades latino-americanas, sua polícia e a guerra contra as drogas.
O único erro de Marta foi viver em uma comunidade desfavorecida, e, como policial, ela não estava sozinha. Quase todas as mortes de policiais de São Paulo em 2012 aconteceram quando eles estavam fora de serviço. Os assassinatos têm se concentrado nas áreas pobres da cidade e muitas vezes ocorrem na porta de suas casas. As vítimas costumam ser conhecidas em suas comunidades e moradoras de zonas controladas pelo crime organizado, longe da proteção proporcionada nas partes ricas da cidade.
EM CIDADES EM EXPANSÃO COMO SÃO PAULO, OS POLICIAIS MAL REMUNERADOS COM FREQUÊNCIA VIVEM LADO A LADO COM MEMBROS DO CRIME ORGANIZADO EM PERIFERIAS URBANAS ESPALHADAS PELA CIDADE E NEGLIGENCIADAS PELO GOVERNO.
FREQUENTEMENTE DESIGNADOS PARA TRABALHAR EM ÁREAS DISTANTES DE SUAS CASAS, ELES ESTÃO PROTEGIDOS EM SERVIÇO, MAS, FORA DO HORÁRIO DE TRABALHO, NÃO DISPÕEM DE PRATICAMENTE NENHUMA SEGURANÇA.
Nos anos 1990, facções criminosas emergiram em prisões violentas e começaram a disputar territórios urbanos. O controle relapso das armas de fogo, as fronteiras pouco vigiadas e o lucrativo tráfico de drogas tornaram a situação pior.
“A gente jogou bola juntos quando éramos crianças” − contou-me recentemente um policial civil chamado André, referindo-se aos traficantes locais − “mas eu consegui seguir pelo caminho certo”. André cresceu em Jardim Ângela, bairro de São Paulo antes considerado o mais perigoso do planeta pela Organização das Nações Unidas.
Sua infância se assemelha à de muitas crianças pobres. Ele morava em uma casa construída por seus avós imigrantes e estudava em escola pública. Na adolescência, escapou de gangues de traficantes rivais e de grupos de extermínio formados por policiais fora de serviço. Comuns em muitas cidades brasileiras, esses esquadrões anticrime variam de justiceiros locais a grupos paramilitares conhecidos como milícias.
Recentemente, André precisou deixar o Jardim Ângela, depois de ser acusado de delação por traficantes. Atualmente, para viver em relativo anonimato em outra parte da cidade, ele precisa emendar turnos em três ou quatro empregos.
Muitos dos que hoje são policiais civis e militares foram amigos ou colegas de escola dos atuais membros do crime organizado. Vários policiais têm parentes que se casaram com criminosos e, às vezes, continuam morando ao lado ou de frente uns para os outros.

OS CONCURSOS PÚBLICOS DA POLÍCIA BRASILEIRA SELECIONAM SEUS CANDIDATOS POR NÍVEL EDUCACIONAL E CRIAM EMPECILHOS PARA O CRESCIMENTO PROFISSIONAL E A MOBILIDADE ECONÔMICA. SEM SE AFASTAR DO TRABALHO PARA ESTUDAR DURANTE ALGUNS ANOS, É IMPOSSÍVEL SUBIR OS DEGRAUS CORPORATIVOS DA FORÇA POLICIAL.
Com poucos meios de sair das comunidades carentes, os policiais encontram outras maneiras de sobreviver. Alguns deixam suas armas e distintivos no trabalho. Outros assumem identidades diferentes em suas vizinhanças como professores de história, motoristas de táxi ou seguranças privados, ou passam despercebidos por grupos criminosos simplesmente por não se socializarem. Há também os policiais corruptos que pertencem à “folha de pagamento” das organizações criminosas, assim como aqueles que escolhem se tornar milicianos.

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