terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Reflexões sobre a greve da PM da Bahia


 por: Soldado - Guilherme de Castro - 20/02/2012 - 
 

Ricardo Brisolla Balestreri

Caros amigos, reproduzo, abaixo, algumas reflexões despretensiosas que fiz como resposta à pergunta de uma amiga policial que gostaria de saber como vejo o tratamento dado pela mídia e pelas autoridades à greve da polícia baiana:

A mídia deu aos policiais baianos o mesmo tipo de tratamento que, de forma geral, tem dado a todas as coisas: superficial, rasteiro, cheio de clichês, meias verdades( e meias mentiras), lugares comuns, obviedades, demagogias. A mídia brasileira, com raras exceções, continua sendo a mesma farsa lacerdista/falso-moralista de sempre (acobertando a censura real e os interesses onipresentes do grande capital e dos senhores feudais dos grandes meios familiares e políticos de comunicações).

Tratou os profissionais de segurança pública da Bahia de forma a apresentá-los à opinião pública- velada ou subliminarmente- como membros ou como coniventes com organizações criminosas, grupos de extermínio, matadores e baderneiros. Não se preocupou em destacar o fato de que bandidos infiltrados em organizações de poder - como a polícia- agem o tempo todo, independentemente de greves, e devem ser punidos independentemente de greves.

Confundiu e mistificou, como sempre faz, em nome de "causas nobres" inquestionáveis, como o respeito à ordem pública e à democracia. Mais assustador é o fato de que o estado brasileiro, oportunística e temerosamente, lhe tenha seguido os passos. Ou seja, há muito não se via o estado ( e não estou me referindo ao estado da Bahia especificamente, o que seria um reducionismo) sendo pautado tão fortemente não pelos fatos e pela necessidade de políticas públicas mas pelas banalidades aterrorizadas e generalizações da política do medo.

Não se aproveitou para debater com qualquer seriedade as condições de vida e trabalho dos policiais, bombeiros, guardas municipais e agentes penitenciários, não foram lembrados os cortes orçamentários federais para a segurança pública e nem o desmantelamento de importantes programas do governo Lula, não se abordou a legislação anacrônica que rege a segurança no Brasil, não se falou do absurdo extemporâneo, do entulho constitucional culturalmente autoritário, herdado, que faz o Brasil contemporâneo continuar olhando para as PMs da mesma forma que as olhava a ditadura, como militares e não como policiais, submetidas a uma lógica que deveria servir apenas às forças armadas ( o que não significa que precisem perder a estética militar), não se lembrou do óbvio caos e anarquia a que sempre estarão sujeitas profissões às quais todos os direitos são negados, inclusive o de sindicalização, sempre que a "panela de pressão" explodir, quando já não suportarem mais as violações de seus próprios direitos humanos.

 A mídia e o estado brasileiros, sem compreender a correlação entre segurança e desenvolvimento, continuam tratando os profissionais  da área como meros "braços armados" e, na contramão da história das democracias, estudam a hipótese de sufocá-los ainda mais, penalizando os grevistas como "criminosos federais" e retirando da pauta a PEC 300 ( que tem sido tratada com assustadora leviandade, como mera invenção manipulatória de políticos demagogos e irresponsáveis).

A mesma velha lógica da ditadura, de encarar as reivindicações sociais como "caso de polícia" hoje é usada contra a polícia (que tem nisso uma chamada pedagógica para rever o seu próprio passado como braço armado de elites insensíveis às demandas populares). É um caminho muito burro, além de tudo. Não se contém, historicamente, nenhuma forca reivindicatória na base da penalização e da porrada. A coisa volta e volta pior. Sem liderança autorizada constituída, formal, responsabilizável, sem canais institucionais legítimos, cada nova explosão é mais perigosa do que a anterior. As causas? Parece que os poderosos não estão preocupados com elas.

 A lógica é tecnocrática, aritmética, economicista, de curto prazo, de estancamento puro e simples dos fenômenos/consequências. Contas, tabelas, números, não pessoas. Essa gente tem um pensamento linear, econométrico, e não alcança uma visão de complexidade. Em sua miopia histórica, confunde investimento com gasto e negociação inteligente com fragilidade. O Brasil enriquece mas continua com mentalidade de terceiro mundo....
Abraço fraterno do Ricardo Balestreri.

Ricardo Brisolla Balestreri
Diretor executivo · Julho de 2011 até agora · Brasília
BBALESCON, Editoria e Assessoria em Educação e Segurança Pública
Empresa de Assessoramento a Programas Públicos e Privados de Educação
de Capital Humano e de Segurança Pública, Editoria de Livros.

Ex-Secretario Nacional de Segurança Pública - Ministério da Justiça - Brasil
Como Secretário, comandou a Força Nacional de Segurança Pública
De Março de 2008 a Janeiro de 2011
Secretário Nacional de Segurança Pública · De Março de 2008 a Janeiro de 2011
Diretor de Ensino e Pesquisa em Segurança Pública · De Março de 2004 a
Março de 2008

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