domingo, 5 de junho de 2011

Casa Grande e Senzala


Na época da escravidão, como todos sabem, os negros eram considerados apenas uma mercadoria. Um objeto que poderia ser utilizado por seus donos da maneira como bem entendessem. Abusos eram recorrentes e é óbvio que quem sofre a condição de dominado dificilmente se conformará e não lutará para mudar seu destino. Esses que brigavam por seus direitos eram marginalizados e considerados perigosos, criminalizados por desejar tão somente ser respeitado enquanto ser humano. Conter os revoltosos era uma tarefa ingrata, penosa e repugnante até para seus “donos”, que nem sempre estavam dispostos a realizar o trabalho sujo. Então surgiu a figura do Capitão-do-mato.
Para entender melhor o que esses homens faziam, recorro a uma breve explicação doWikipédia:
“O Capitão-do-mato era na origem um empregado público da última categoria encarregado de reprimir os pequenos delitos ocorridos no campo. Na sociedade escravocrata do Brasil, a tarefa principal ficou a de capturar os escravos fugitivos.
O termo capitão-do-mato passou a incluir aqueles que, moradores da cidade ou dos interiores das províncias, capturavam fugitivos para depois entrega-los aos seus amos mediante prêmio.
Os capitãos-do-mato gozavam de pouquíssimo prestígio social, seja entre os cativos que tinham neles os seu inimigos naturais, seja na sociedade escravocrata, que os considerava inferiores até aos praças de polícia, e os suspeitava de seqüestrar escravos apanhados ao acaso, esperando vê-los declarados em fuga para depois devolvê-los contra recompensa.”
Ironicamente, muitos dos homens que detinham tal ofício eram justamente outros negros que – para escapar dos martírios da senzala – traíam seus pares em troca de efêmeros benefícios. Vantagens ilusórias que lhes faziam acreditar serem diferente dos “irmãos” que perseguiam como animais. Ainda pior, julgavam-se semelhantes aos seus patrões, que por sua vez não lhes rendiam considerações.
Felizmente muita coisa mudou desde esse período. Muito embora as classes sociais populares ainda sofram com o descaso dos governos (independente da ideologia partidária). Hoje não temos o regime escravo, mas temos o proletariado. Daí as constantes lutas sindicais em buscas de melhorias não apenas salariais, como também no avanço das condições de trabalho.
Em se tratando de movimentos na esfera da segurança pública percebemos ainda uma situação do tipo “capitão do mato”. Aquele sujeito que cerca de bajulações seu “Senhor” em troca de algumas honrarias, cargos ou mesmo por gratificações que tão logo se mude o quadro de lideranças, provavelmente será 
descartado
 substituído.
Entristece saber que alguém que conhece (ou deveria ter ciência) a realidade dos profissionais de segurança ignore a classe que também está inserido. O que é pior, persegue outros que compartilham de uma mesma farda, lutando por avanços, sacrificando a própria liberdade. De maneira covarde se esconde sobre a pecha da “hierarquia e disciplina”, esquece os valores do companheirismo e honra. Qualidades tão valorizadas por aqueles que combatem diariamente os verdadeiros inimigos da sociedade.
É revoltante pensar que nos dias de hoje, mais de 120 anos depois da abolição da escravatura e 23 anos após o fim da ditadura militar no Brasil, trabalhadores ainda tenham que enfrentar prisões, perseguições e processos por não compactuarem com as aberrações existentes no país que se diz democrático.
É perturbador saber que seus gritos ecoam quase sempre silenciosos ou quando são ouvidos, suas vozes são deturpadas, manipuladas em benefício dos que detém o poder. Quem é oprimido se torna baderneiro. Não basta castigá-los no tronco dos regulamentos disciplinares, é preciso execrá-los para que sirvam de exemplo para que outros não façam o mesmo.
Apesar de tudo, assim como a escravidão teve seu fim, acredito que teremos dias melhores. Tempos em que, além da honra natural de servir à sociedade, esses homens sentirão também o orgulho de ter contribuído para a evolução das nossas instituições. Não sem união, não sem perseverança.

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